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Argumento



A noticia não é novidade a essa altura do campeonato. Quando ela parecia ser um boato, até procurei por uma confirmação concreta de verdade (chega de boatos e pisadas de bola) mas eu estava sobrecarregado demais para poder investigar se era verídico ou não – e eventualmente a confirmação veio: em 2010, Bakuman, baseado no mangá de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata publicado na revista semanal para garotos Shonen Jump, da Shueisha, terá sua versão animada e ela será exibida no canal NHK – o canal estatal japonês, cujo perfil não é muito diferente de nossa Rede Brasil.


Ótima escolha de canal e ótima notícia.
Muita água rolou desde que escrevi minha primeira matéria sobre a série que recolocou Ohba e Obata na trilha do sucesso – ou melhor, recolocou Obata na trilha do sucesso, já que este fez uma série mal-sucedida chamada Blue Dragon: Ral Grado, que teve um excelente e promissor primeiro episódio (quando alguém transforma uma longa e exageradíssima cena de apelação em um grande momento de caracterização para dois personagens, fundamental para quem entendamos quem eles são e o que os define, você tem que prestar atenção; isso é habilidade), mas que em menos de três capítulos foi completamente destroçado pelo que parece ter sido interferência editorial mal planejada. O resto foi consequência. Acredito inclusive que essa experiência de trabalho tenha contribuído para algumas linhas de trama de Bakuman – foi esclarecido que Obata e Ohba trabalhavam em separado e não se conheciam pessoalmente, mas agora as coisas são diferentes, pelo menos no que diz respeito a ambos se conhecerem. Duvido que não haja partilha de experiências aqui.
Sobre Bakuman, escrevi um artigo enorme aqui quando a série ainda estava no primeiro volume – e recomendo que se alguém não conhece a série, dê uma olhadinha e depois volte pra cá. O ponto é que daquela fase inicial até o ponto que estamos agora, há muito o que se considerar.

Especialmente porque ela passou por muitas fases. Algumas muito boas, algumas nem tanto. E numa obra aberta, isso é completamente natural: Bakuman começou com paixão visível da equipe que produzia; isso é visível e contribuiu muito para ganhar imediatamente seus leitores – exceto as pessoas que reclamavam por não ser uma série na linha de Death Note.
Algumas leitoras também azedaram por achar a série machista, mas não é bem assim. Os personagens fazem oque podem Bakuman para afastar as fanzineiras que vêem homoerotismo em tudo: os personagens são grandes amigos, "uma mesma alma em dois corpos separados", como gostam de dizer, mas claramente gostam de mulher e isso volta e meia lhes dá alguma dor de cabeça (se bem que Mashiro ainda precisa passar pelo seu batismo de fogo nesse terreno – ainda não apareceu uma personagem feminina que balançasse sua determinação pela sempre distante Azuki). Do jeito que abusaram da figura de L e Raito (embora até eu ache esses dois muito suspeitos), eu compreendo perfeitamente a atitude dos autores.
Ohba também ataca pesadamente o cenário de quadrinhos para o fã hardcore a partir de um personagem que aparece muito pouco (Ishizawa, provavelmente um dos personagens mais desprezíveis da série), mas quando aparece, deixa bem clara a posição de Ohba e Obata – quanto a este, nada me tira da cabeça que ele pegou o trabalho em Ral Grado para poder desenhar algumas meninas seminuas após todo esse tempo com Near, Light, Mello e outros personagens esquisitões.
O fato é que a partir de certo momento, o aspecto "reality show sobre a vida de quadrinhista" toma conta. E embora perca em emotividade em relação a sua fase inicial, o fato é que ele se torna importante por um motivo simples: ele mostra aquilo que um quadrinhista tem que enfrentar no Japão. A flutuação dos gostos do público, o confronto entre editores e artistas, a dificuldade em se estabelecer, a efemeridade do sucesso, a dificuldade de se manter a saúde e uma virtual ausência de vida pessoal em boa parte do tempo (podem reparar: ninguém é lá muito maduro nesse terreno na história, e quem é que tem tempo para adquirir vivência em um contexto como esse? Se pensarmos bem, muitas atitudes estúpidas dos personagens fazem sentido).
Bom, eu estarei a espera. O anime terá 25 capítulos, então provavelmente a série está próxima de seu final – ou então ela simplesmente vai ter um final tapa-buraco. Esperemos que não. Bakuman merece mais do que isso.


Fonte: Maximum Cosmo

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